Aída dos Santos foi a única mulher a representar o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, em 1964.
Contrariando todas as probabilidades, sem técnico como as demais competidoras e sem que lhe fosse dado pelo menos um uniforme pelo comitê olímpico, ela levou o 4º lugar para casa.
Contexto Social
Aída nasceu em uma família pobre e trabalhou desde a infância como faxineira. Ela estudava numa escola de segunda a sábado pela manhã e trabalhava à tarde. Aos domingos costumava convidar umas amigas para irem jogar Voleibol no estádio Caio Martins.
Uma das suas colegas fazia atletismo e como elas iam juntas de bicicleta sempre a convidava para treinar, até que um dia ela aceitou.
Primeiros Anos
No seu primeiro salto ela alcançou a marca de 1,40m. O técnico, então, a inscreve numa competição que aconteceria no Clube do Fluminense.
O pai de Aída não autoriza que ela participe. Sua amiga convence então o pai a deixá-la ao menos ir assistir.
Aída volta com uma medalha para casa após alcançar 1,50m, quebrando o recorde estadual. O pai lhe pergunta se tinha dinheiro, ela diz que não e leva uma surra dizendo que “medalha não enche barriga de ninguém e que ela precisava ajudar no sustento da família”.
Eliminatórias
Aída estudava, trabalhava e muitas vezes treinava à noite, no escuro, já que o local não tinha iluminação.
Em uma eliminatória para poder participar das Olimpíadas alcançou a marca de 1,65m, vencendo uma outra brasileira que já havia chegado aos 1,71m, mas naquele dia não bateu o 1,65m.
Faltava um mês apenas para os Jogos e Aída ficaria sem uniforme, pois segundo os dirigentes não daria tempo de providenciar.
Jogos Olímpicos
Ela viaja para Tóquio sem o apoio de um técnico e enfrenta o desprezo dos demais atletas da delegação que a chamavam de “turista”.
No parque olímpico ela lembra de ver algumas atletas com 2 ou 3 técnicos e chorar, pois sequer tinha material para competir.
Chegou a ir em 2 estandes em busca do seu material de competição, mas seu nome não havia sido inscrito pelo comitê olímpico brasileiro. No 2º estande um senhor ficou com dó e liberou um sapato de sprinter, que não era o ideal, mas servia para que ela competisse.
Uma finalista brasileira
Nas olimpíadas, Aída conseguiu sua classificação para a final, fazendo uma marca inédita para ela 1,70m.
Assim, se tornou a primeira mulher brasileira a chegar a uma final olímpica.
Porém, durante a fase classificatória torceu o tornozelo durante o salto. Desprezada pelos dirigentes brasileiros, recebeu auxílio do técnico peruano Roberto Abugatas em relação a melhorias para a final, além de ter sido atendida pelo médico da delegação cubana, a pedido da atleta Miquelina Cobian.
Na final, ela alcança a marca de 1,74m e fica em 4º lugar.
De volta para casa
Na volta para casa é recebida no aeroporto com uma corbelha de flores e o caminhão do corpo de bombeiros, mas se recusa a desfilar dizendo: “vocês tinham que ter me dado este apoio antes.”
Aída ainda participou da Olimpíada do México, em 1968, batendo o recorde sul americano do pentatlo mesmo com o joelho distendido.
Ação social
Aída mantém atualmente um instituto para promover a inclusão social por meio do atletismo e do voleibol junto com a filha, Valeska Menezes, a Valeskinha do voleibol brasileiro.
Sua história no esporte rompe barreiras de gênero, raça e classe. É uma história de persistência.
Com ela encerramos o tema do mês, Pioneiras Olímpicas.