História de Sara e Yusra Mardini

Para fechar o tema do mês: Mulheres e Migração, quero compartilhar com vocês uma história que me marcou profundamente. Ela conta a história de duas irmãs refugiadas.

Uma das principais situações que motivam mulheres a abandonarem seus países é a violência, muitas vezes configurada por graves e generalizadas situações de violação dos direitos humanos. O simples fato de serem mulheres as colocam em situações de extrema vulnerabilidade não só antes, como durante e depois da deslocação. Essas mesmas mulheres são heroínas na luta pela sobrevivência.

Sara e Yusra Mardini nasceram na Síria e faziam parte da equipe juvenil de natação, influenciadas pelo pai.

Elas viviam em situação de guerra. A Primavera Árabe havia chegado à Síria e gerou uma insurreição com uma série de enfrentamentos violentos.

Com a população fugindo do país, Yusra e Sarah queriam fazer o mesmo, mas os pais não queriam discutir essa possibilidade. Até que…

Depois de um treino de natação, pela manhã, elas estavam esperando pela mãe do lado de fora, quando uma bomba explodiu dentro do local onde elas treinavam. Na ocasião, perderam vários amigos.

Assim, elas convencem os pais e decidem deixar o país.

Para fazer isso, teriam de atravessar em um bote inflável, da Turquia à ilha grega, Lesbos.

Os traficantes que providenciaram a travessia colocaram 20 adultos e uma criança em um bote com capacidade para no máximo 7 pessoas.

15 minutos depois que elas iniciaram a travessia, o motor parou de funcionar e começou a entrar água no bote.

As irmãs, então, caem na água, numa tentativa não apenas épica, mas de extremo altruísmo, e nadam por 3 horas empurrando o barco para salvar todos que estavam ali.

Elas chegam à Grécia, mas os desafios não haviam acabado. Na Hungria, uma cerca de arame farpado as separava da União Europeia, mas elas precisavam chegar na Alemanha.

Novamente nas mãos dos traficantes de pessoas, conseguiram chegar até Budapeste, mas lá descobriram que eles vendiam órgãos dos refugiados ou, no caso, das mulheres, se fossem atraentes, as obrigavam a prostituir-se. Esta situação, de extrema vulnerabilidade, faz com que elas fujam.

Na estação de trem da capital húngara, encontraram a seguinte situação: cerca de cinco mil refugiados esperavam ali, dia e noite, para embarcar em algum trem, porém a polícia os impedia e havia muita confusão. Elas acabam confinadas em um campo de refugiados horrível e, nesse momento, toda a luta parecia perdida.

Porém, no meio deste cenário desesperançoso, aparecem ônibus especiais para enviar os refugiados sírios de Budapeste para a Alemanha.

Isso aconteceu quando a chanceler Angela Merkel promoveu uma decisão histórica de acolher os refugiados. “Não quero entrar em uma competição europeia para decidir quem trata pior essas pessoas”, anunciou ela.

Na Alemanha, foram recebidas como seres humanos, comida quente, banho, mensagens de boas-vindas e o lamento pela guerra e tudo que estavam passando.

É difícil não se sensibilizar com essa história. Ela é capaz de nos ensinar sobre o pior e o melhor do mundo, ao mesmo tempo.

Para encerrar o tema deste mês eu quero deixar uma mensagem aqui: estejamos atentos aos rótulos e a hierarquia que estabelecemos entre eles. Nós somos capazes de desumanizar o outro: por sua origem, por sua classe social, por seu gênero... Mas não existem subclasses humanas.

Seja a partir da nossa ação ou do nosso pensamento, nós sempre escolhemos aquilo que enxergamos no outro. Então, que a gente passe a ver mais aquilo que nos conecta: nossa humanidade e menos aquilo que nos distancia.

Voltar para o blog