Começamos mais um mês de histórias. Desta vez, o tema deste percurso feminino será: Grandes Ceramistas.
Talvez não haja matéria-prima mais antiga do que o barro e esse é um resgate profundo. Espero que essas histórias alimentem as almas de vocês com essa arte tão longínqua quanto alimentou a minha nesse caminho de pesquisa.
Para começar, vamos mergulhar na história de Rosa Ramalho, uma ceramista portuguesa especialmente reconhecida por seu papel fundamental na elevação do Figurado de Barcelos à categoria de arte reconhecida.
Vem comigo!
Primeiros Anos
Ela nasceu Rosa Barbosa Lopes, mas ficou vulgarmente conhecida por Rosa “Ramalho” de tanto ouvir da família “não saias daqui, põe-te à sombra dos ramalhos!”.
Nascida em Galegos de São Martinho, concelho de Barcelos, numa família humilde. Rosa Ramalho nunca frequentou a escola.
Aprendeu a trabalhar o barro desde muito nova para fazer algum dinheiro. Rosa ia para casa de uma vizinha que modelava figuras. Inicialmente, ela tecia tiras de cestas, mas depois passou a aprender a fazer figuras como barro, a partir da terra que tinha à disposição.
O Casamento
Rosa casou-se aos 18 anos. Teve oito filhos, mas três morreram logo ao nascer. Durante os anos que esteve casada, quase cinquenta, Rosa deixou de trabalhar como barrista e passou a dedicar-se ao mesmo ofício do marido que era moleiro.
Foi somente após a morte do marido, em 1956, já com 68 anos de idade, que ela iniciou o trabalho pelo qual veio a ser conhecida.
A arte figurada
Rapidamente a arte de modelar a “imaginação” se torna a sua paixão. Ela, então, produz figuras de contornos dramáticos, dando vida a um universo único de personagens populares, animais fantásticos e cenas do cotidiano rural.
Sua obra é marcada por um estilo singular que combina realismo com elementos surrealistas.
Arte ou Artesanato?
Sua habilidade natural e criatividade a destacaram entre os artesãos da região, e logo suas obras começaram a ganhar reconhecimento por sua originalidade e expressividade.
Ela recebe apoio de artistas contemporâneos como António Quadros e Ernesto de Sousa, nas décadas de 1950 e 60. Nesse momento acontecia um movimento que promovia a abolição de fronteiras entre arte popular e erudita, dignificando chamada “arte ingênua”.
A primeira a assinar suas obras
Um dos seus maiores méritos foi ter sido a primeira mulher a assinar suas peças com “RR”, moldada em gesso pelo seu filho e desenhada pelo pintor Jaime Isidoro para as suas peças de Figurado de Barcelos, rompendo assim com a tradição anônima da produção artesanal.
Essa atitude ousada contribuiu para o reconhecimento do trabalho das mulheres ceramistas e para a valorização do Figurado, como forma de arte individual.
Obs.: Figurado de Barcelos é uma tradição neolítica de trabalho com barro, específica daquela cidade do norte de Portugal, que se distingue da olaria pelo seu carácter espontâneo, lúdico e não necessariamente utilitário.
Legado
Ela recebeu a medalha “Artes ao Serviço da Nação”, em 1964 e faleceu, em 1977, aos 89 anos.
Rosa costumava dizer que sem o barro não era ninguém. E, com o barro, trabalhou toda a vida, deixando um legado de criatividade e imaginação que inspira até hoje muitas gerações.
Diante dessa história, deixo aqui uma pergunta reflexiva sobre a tua história: Quando as tuas circunstâncias ou a tua idade lhe impediram de tentar algo novo?