História de Nísia Floresta

Este mês será dedicado às histórias das  Escritoras da Língua Portuguesa. 

Viva, dinâmica e com muitos sotaques, esta língua une pessoas de países como Angola, Brasil, Moçambique, Portugal e outros. Então, aqui teremos histórias diversas.

Para inaugurar essa conversa, escolhi a história pouco conhecida de Nísia Floresta, a brasileira considerada a primeira feminista do Brasil. Uma mulher que usou a escrita e a prática educadora para questionar a condição da mulher.

Nísia Floresta Brasileira Augusta é o pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto. Ela nasceu no Rio Grande do Norte, filha do português Dionísio Gonçalves Pinto, que veio de Portugal para o Brasil no começo do século XIX e trabalhava como advogado, e da brasileira Antônia Clara Freire, herdeira de uma das principais famílias da região.

Sua infância é marcada por muitas mudanças de cidades, o que pode ter contribuído para que ela tivesse um olhar mais atento às diversas realidades. 

Essas deslocações são explicadas pelas perseguições que o pai sofria não apenas em razão dos movimentos revolucionários antilusitanos, mas porque como advogado assumia causas que iam contra interesses de grandes proprietários de terra. Ele acaba, inclusive, assassinado mais tarde em Olinda. 

A base formativa desse seu espírito mais vanguardista ainda incluiria a vivência de um casamento indesejado aos 13 anos de idade. No entanto, apenas alguns meses depois ela foge e volta para a casa da família, carregando consigo o julgamento da própria família e da sociedade por ser uma “divorciada”. 

Será que seu espírito revolucionário já podia ser percebido desde muito jovem? Ou, na verdade, é exatamente a experiência vivida que faz surgir o propósito feminista que ela levaria até o restante dos seus dias? 

Após 5 anos do primeiro casamento, ela inicia um namoro com Manuel Augusto de Faria Rocha, acadêmico da Faculdade de Direito de Olinda e tem com ele dois filhos.

O ano de 1831 é marcado pelas suas primeiras publicações, uma série de artigos no jornal sobre a condição feminina, sendo uma das mulheres pioneiras na contribuição para uma imprensa nacional, que ainda dava os primeiros passos.  

Em 1832, faz a publicação de seu primeiro livro: Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, assinando pela primeira vez com o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta (Nísia que é extraído de Dionísia; Floresta que era o nome da fazenda onde nasceu; Brasileira, pois carregava orgulho de seu país e Augusta em homenagem ao companheiro Manuel Augusto). 

Nísia escreveu diversas obras em defesa dos direitos das mulheres, índios e escravos, sendo uma reconhecida abolicionista. Entre eles estão: 

  • Conselhos à minha filha, 1842
  • Fany ou O modelo das donzelas, 1847
  • Opúsculo humanitário, 1853: apreciado por Auguste Comte, pai do positivismo, com quem teve aulas no tempo em que viveu na Europa.
  • Páginas de uma vida obscura, 1855
  • A Mulher, 1859
  • Le Brésil, 1871
  • Fragments d'um ouvrage inèdit: notes biographiques, 1878

Em tempos em que a mulher não tinha direitos ao voto ou mesmo a trabalhar sem autorização do marido, ela abre uma escola para meninas diferente de qualquer outra.

O Colégio Augusto tinha em sua proposta pedagógica uma educação às mulheres, equiparada aos melhores colégios masculinos da época. Elas aprendiam a gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências naturais e sociais, matemática, música e dança.

Sua forma de pensar incomodava. Enfrentou críticas patriarcais como essa publicada em jornal: “… trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no escuro. Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos”.

Nísia por sua vez escreveu: "Que direito, pois têm eles [os homens] de nos desprezar, e pretender uma superioridade sobre nós, por um exercício que eles partilham igualmente conosco? Todos sabem, nem se pode negar, que os homens olham com desprezo para o emprego de criar filhos e que é isso, às suas vistas, uma função baixa e desprezível; mas se consultassem a natureza nesta parte, sentiriam sem que fosse preciso dizer-lhes, que não há no Estado Social um emprego que mereça mais honra, confiança e recompensa".

É inegável a relevância de Dionísia Gonçalves Pinto para uma visão histórica do feminismo no Brasil. Sua escrita ajuda a remontar a emancipação feminina do Brasil.

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