Marie Laveau é conhecida como a Rainha do Vodu, uma religião que tem origem na África Ocidental, e é bastante comum no Haiti.
Marie nasceu em Nova Orleans, EUA, numa comunidade de imigrantes do Haiti. Entre eles, estavam imigrantes brancos franceses donos de plantações, escravos negros e algumas pessoas negras livres.
Acredita-se que ela seja filha de uma escrava liberta e de um político chamado Charles Laveau.
A falta de precisão em documentos históricos deixa lacunas sobre partes da sua história, ainda assim, aquilo que sobreviveu coloca esta mulher curandeira em um patamar social de grande destaque.
Após ficar viúva, em 1820, depois de apenas um ano de casada, ela abre um salão com a herança do marido e se torna cabeleireira.
Algumas fontes dizem que era exatamente por conta do ambiente do salão de beleza, propício para fofocas, que ela colhia informações para melhorar sua imagem como clarividente.
A verdade é que ela se tornou muito respeitada pela elite da cidade. Fazia atendimentos em casa que incluíam o trabalho com ervas, a leitura de cartas e também feitiços.
Ela unia o sistema de crenças do vodu, sua religião, com a iconografia católica nas cerimônias que realizava. Elas aconteciam aos domingos em espaço público e envolvia o sacrifício de galos e bodes para que o sangue fosse derramado em pessoas que precisavam de purificação. Os rituais também envolviam música, dança e o transe onde se incorporavam os loas (deuses).
Na Bahia, o candomblé jeje tem influência vodu, assim como o tambor de mina no Maranhão e no Amazonas.
Era comumente requisitada por famílias de possíveis condenados à morte para que o julgamento ficasse favorável ao réu. Dizem que um dos seus feitiços incluía colocar três pimentas na boca e depois as deixar debaixo da cadeira do juiz.
Também é dito que sua própria casa teria sido dada como pagamento para salvar o filho de um fazendeiro rico.
Mas… O que teria recebido, então do fazendeiro? Ou seria sua generosidade fora do comum? Será que fazia de tudo mesmo para que seus dons não fossem questionados? Mais uma vez as lacunas nos deixam sem a informação completa.
Independente do seu poder ser derivado de algo sobrenatural ou simplesmente da sua aguçada percepção, tudo indica que ela tinha o poder de dar bons conselhos e seus serviços eram bastante demandados.
Além disso, era conhecida por ser generosa, cuidava regularmente de pessoas doentes e abria espaço em sua casa para quem necessitasse de abrigo ou comida.
A história e a imagem de Marie são nebulosas. O que talvez venha da necessidade intrínseca de se apresentar como misteriosa para realizar seus feitos, mas também pela ausência de precisão em registros históricos.
De toda forma, o feito de uma mulher, no séc. XIX, como empresária de sucesso, praticante de uma religião africana, negra e que exercia influência sobre várias pessoas ao seu redor é, no mínimo, impressionante dado o contexto histórico.
Mesmo numa época pouco provável, a história de Marie Laveau fala sobre sua posição de poder político e social, o que significa um novo registro de narrativa sobre as mulheres negras que precisamos saber que existiu.
Sua influência na sociedade da época foi retratada pelos jornais, após sua morte, da seguinte forma: “uma mulher de grande beleza, intelecto e carisma, que também era piedosa, caridosa e uma hábil curandeira de ervas.”