Ao olharmos a história da humanidade, logo percebemos que somos uma espécie migrante. As sociedades estão em constante movimento geográfico, por isso, a ideia de nativos versus forasteiros pode ser um tanto limitada.
Na semana passada, eu contei a história da Chimamanda Adichie a partir da sua provocação sobre a imagem que fazemos de pessoas de outros lugares. Hoje, a história da Madeleine Albright, uma mulher migrante e diplomata, vai nos ajudar a perceber quem migra e porquê? E como existem desafios diferentes para cada um. Uma história em que a “forasteira” se torna uma das maiores autoridades do país que a acolheu.
Madeleine Albright foi uma política e diplomata americana nomeada como Secretária de Estado dos Estados Unidos por Bill Clinton, tendo sido a primeira mulher no cargo.
Ela se descreve numa entrevista com três palavras: agradecida, otimista e trabalhadora.
Sua história começa com uma infância nada comum. Ela nasce em Praga, Tchecoslováquia e é filha de Josef Korbel, um diplomata que se vê obrigado a abandonar o país e solicitar exílio na Inglaterra em 1939, com a invasão nazista.
O que seria um exílio por razões políticas, mais tarde mostrou-se não ser apenas isso. Seus pais tinham raízes judaicas. O que ela só descobriu na vida adulta, após a morte deles.
A família chega a retornar para Tchecoslováquia, mas a presença soviética na região leva-os a uma nova migração. Desta vez, Madeleine, então Marie Jana, chega aos EUA, em 1948, com 11 anos de idade.
Com esforço e bem adaptada, sua trajetória envolveu estudos na Wellesley College, uma instituição para mulheres, o que segundo Madeleine a permitiu ver mulheres em cargos de liderança. (Vejam como repertório é importante!).
Albright ficou famosa pela frase: “Existe um lugar especial no inferno para mulheres que não ajudam outras mulheres”. Ela afirma que recebeu muitos questionamentos de outras mulheres sobre ser mãe e ter uma carreira, mas também recebeu importantes apoios na sua nomeação ao cargo de Secretária de Estado, incluindo o de Hillary Clinton que deu seu empurrãozinho junto a Bill Clinton.
Sobre os desafios em ser mulher diante de diversos líderes mundiais, em sua maioria homens, ela pontua algumas questões:
- Deve de se desenvolver na arte de interromper ou ela não seria ouvida numa sala cheia de homens;
- Ainda que fosse mulher, teve uma posição privilegiada por ser uma representante de uma potência mundial. Inclusive afirma que encontrou menos barreiras no exterior do que entre membros do seu próprio governo;
- Confessa que exibiu mais confiança do que de fato sentia, principalmente quando foi embaixadora na ONU.
Por outro lado, sua história de imigrante facilitou conversas na política internacional, não apenas pelo seu conhecimento em línguas como checo e russo, mas pela experiência de vida.
Em uma conferência sobre Migração, Albright reconheceu seus privilégios ao dizer que embora ela e sua família fossem refugiados, eles tiveram sorte, afinal, ninguém os ameaçou de colocar em containers, e eles chegaram aos EUA em um transatlântico.
Na conferência ela ainda afirmou o seguinte: “Embora todas as nações tenham o dever de proteger suas fronteiras e fazer cumprir as leis, essa não é a sua única responsabilidade. Deveríamos reconhecer que se o destino tivesse decidido diferente, cada um de nós poderia se encontrar do lado de fora dos portões, clamando para entrar.”
A história de Madeleine Albright é uma história particular e única, mas ao mesmo tempo a sua história é também a história de muita gente. Como ela afirmou uma vez: “por experiência própria, a fuga de casa não acontece sem uma boa razão” e não são poucas as pessoas que se veem obrigadas a deixar suas casas e migrar como a família dela.
A história de hoje ilumina algumas razões pelas quais as pessoas migram e como cada história carrega os seus desafios e também a sua força transformadora. Uma “forasteira” em um ambiente com recursos humanos para se potencializar se tornou uma fiel representante da nação que a acolheu.