História de Lou Andreas-Salomé

É dada a largada! As histórias deste mês terão como fio condutor o tema "Mulheres na Psicologia".

Nesse contexto, começaremos com Lou Andreas-Salomé, a filósofa, romancista, psicanalista e figura fascinante ainda pouco estudada academicamente. 

A sua jornada, marcada por uma intensa curiosidade intelectual e liberdade, desafiou as convenções de sua época e pavimentou o caminho para futuras gerações de mulheres na área da psicologia.

Primeiros anos 

Nascida em 1861 na Rússia Imperial, Salomé foi uma pioneira intelectual desde jovem. Aos 17 anos, ela pediu ao pastor holandês Hendrik Gillot para lhe ensinar teologia, filosofia, religiões mundiais e literatura francesa e alemã.

Frequentou a universidade em Zurique e depois viajou à Roma. Sua sede de conhecimento a levou a interagir com algumas das mentes mais brilhantes de sua época, incluindo Nietzsche, Freud, Paul Rée e Rilke. 

Uma mente brilhante

Quem a conhecia não podia deixar de se impressionar com a originalidade do seu pensamento e da sua inteligência.

É possível dizer que os homens mais importantes de sua época a consideravam como iguais intelectualmente. Porém, não foi fácil para ela conseguir isso, já eles não a deixaram de ver como mulher e pretenderam inúmeras vezes transformar suas relações intelectuais em amorosas. Era exatamente isso que ela não queria. Ela chegou a propor a Rée e Nietzsche que eles coabitassem em absoluta castidade, o que não durou muito. 

Nietzsche reconhece que foi ela quem o inspirou a escrever “Assim falou Zaratustra”. Assim como Rilke confessou que sem Lou sua criação literária não teria sido a mesma. No fundo, essas relações influenciaram os envolvidos mutuamente e suscitaram na Lou um profundo interesse na psicologia humana.

A psicanálise

Salomé conhece Freud em um congresso, após escrever um ensaio chamado “O Erotismo”. 

Depois, ela se tornou uma colaboradora ativa, trazendo perspectivas únicas sobre a sexualidade e a psique feminina. Tendo, inclusive, atendido a filha de Freud, Anna Freud. 

Eles trocaram cartas por diversos anos. Nelas discutiam sobre os pacientes um do outro e trocavam opiniões sobre diversos assuntos. Freud a chamava de poetisa da psicanálise. O fato dele ter reconhecido publicamente sua admiração por ela era qualquer coisa de espantoso.

Natureza da Mulher 

Salomé explorou a psicologia, escrevendo obras que desafiavam as noções tradicionais de feminilidade e sexualidade. 

Ela, inclusive, teria escrito que as mulheres são naturalmente seres completos. Já que não precisavam sair pelo mundo e procurar por coisas fora de si mesmas, como fazem os homens. Assim, as mulheres eram superiores.

Para ela, as mulheres sabem encontrar sentido nelas mesmas e deveriam por isso abraçar sua individualidade e não tentar ser parecidas com os homens. Assim, acreditava que as mulheres deveriam feminizar a sociedade, se afastando do movimento feminista que surgia na época.

Casamento

Apesar de ter sido veementemente opositora da ideia de casamento, tendo recusado casar-se, primeiramente, com o Pastor que foi seu tutor, depois com Paul Rée, Nietzsche e tantos outros, ela se casa com Friedrich Carl Andreas, um estudioso de linguística. 

Porém, teria negociado com ele um casamento de fachada, tendo se envolvido com outros homens nos anos seguintes. Existem algumas especulações, mas não se sabe ao certo o que levou ambos a se casarem nesses termos, mas assim aconteceu.

Conclusão

Apesar de respeitada dentro do seu ciclo de convivência. A História não a contemplou como deveria e pouco se conhece sobre o seu trabalho teórico, filosófico e psicanalítico.

Inclusive, grande parte de sua obra ainda não tem tradução para o português.

No entanto, a vida e o legado de Lou Andreas-Salomé nos ensinam sobre a importância da coragem intelectual e da autenticidade.

Anaïs Nin uma vez disse que Salomé “criou essa liberdade que hoje nós mulheres exigimos”, mostrando que ela vivenciou na vida prática aquilo que pensava. 

Sua contribuição para a psicologia vai além de suas teorias. Ela abriu caminhos para as mulheres, mostrando que a psique feminina é uma fonte rica de conhecimento e inspiração e que a mulher pode ser protagonista da sua própria história.

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