História de Alda Lara

Depois de Sophia de Mello B. Andersen, mudamos novamente o sotaque, mas não mudamos a força poética da palavra dita em português.

Alda Lara foi uma voz feminina que, através da poesia, articulou a vivência e os anseios das mulheres angolanas, transformando a escrita em um poderoso veículo de expressão e resistência.

Na sua poesia, na sua vida, no seu amor pelo seu povo, procurou dar voz à mulher angolana, à sua força e sensibilidade.

Nascida em 1930, em Benguela, Angola, Alda cresceu num lar que valorizava a educação e a cultura.

Sua infância foi marcada por livros e pelas histórias de seu pai, médico e entusiasta das artes, que lhe ensinou a olhar para Angola com olhos atentos e amorosos.

A influência de seu pai e o contexto colonial em que viveu, foram cruciais para moldar sua consciência crítica e literária.

Formada em Medicina em Portugal, Alda Lara equilibrou sua carreira médica com a poesia, escrevendo sobre temas cotidianos, amor, maternidade, e especialmente sobre a realidade angolana e a condição feminina.

Trecho do poema Maternidade:
Dentro mim,
Do meu sangue nutrida,
e sustentada,
é que a voz não é soluço
mas grito!

Em 1948, escreveu o poema “Vida que se perdeu”, onde reflete sobre os seus dias longe da terra de Benguela. Antes de mudar-se para Lisboa, já havia publicado textos no Jornal de Benguela.

Seu retorno a Angola após os estudos e a vivência em Portugal reforçou sua dedicação à literatura e ao ativismo social. Chegou a recusar uma especialização em Paris, pois tinha o objetivo já traçado de retornar ao seu país.

Sua poesia tornou-se ainda mais enraizada na terra e nas lutas de seu povo. Angola clamava por justiça, e ela, através dos meus versos, clamou junto.

Podemos dizer que a transição de Angola para a independência moldou sua escrita, tornando-a uma porta-voz dos desafios de seu povo e das esperanças de descolonização.

Alda Lara era reconhecida pela sua capacidade de declamação. Assim, fez vários recitais em Lisboa e Coimbra, transformando estes lúdicos momentos em verdadeiros veículos de divulgação da poesia negra, até então ainda muito desconhecida.

Infelizmente, Alda teve uma morte precoce e faleceu em 1962, aos 31 anos.

No entanto, sua obra tornou-se um símbolo da luta pela independência e da luta pela voz feminina na literatura. Ela continuou inspirando gerações de escritoras.

Alda nos ensina sobre o poder transformador da palavra escrita e sua capacidade de ecoar por tantos anos. Sua vida curta não foi em vão.
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